Era segunda-feira e como de costume eu acordava por voltas das sete horas da manhã, pois ás nove e meia começaria uma aula de “Processos Criativos”, que eu cursava como matéria optativa com a turma de calouros de Artes Cênicas há sete meses, sendo assim eu gostava de ter um tempo pra fazer o meu ritual matinal que consistia em: acender o cigarro, caminhar até a cozinha, pegar uma xícara do café que estava na cafeteira (que intencionalmente eu deixava ligada pra que o café feito no dia anterior estivesse quente quando eu acordasse), sentar no sofá da sala para preparar um baseado e tomar um banho antes de sair.
Dessa forma, fui para sala e liguei o rádio na estação que tinha um programa onde tocavam aquelas músicas antigas dos tempos dos nossos pais, mas que nós também gostamos de ouvir por ter crescido ouvindo isso nos churrascos de fim de semana, enfim sentei-me no sofá e comecei a dichavar a maconha prensada e úmida, o que indicava uma erva de ótima qualidade, porém isso dificultava o processo de dichavação, mesmo assim minha prática nessa tarefa agilizou um pouco o processo, e em dois minutos já estava pronto o cigarro. Lá pela terceira tragada começa a tocar no rádio “Sultans of Swing” da banda Dire Straits, isso me fez abrir um leve sorriso de canto, pois essa música tem um ar de boas vibrações que me deixou feliz, e me fez pensar coisas boas, (como saber que em algumas poucas horas eu estaria numa sala com uma maioria esmagadora de mulheres recém chegadas na universidade), peguei de forma sonolenta o café na mesa e dei um gole. No fim da música, o fino baseado produzido estava perto do fim e o café havia acabado, fiquei no sofá esperando que chegasse o fim do programa as oito, pra que assim eu pudesse seguir pro banho, que pra mim por ser o primeiro deve ser o mais longo, pois ali eu coloco os pensamentos do dia em ordem.
Saí de casa as nove e dez, resolvi não ir de carro já que o dia parecia convidativo a uma caminhada de quinze minutos até a universidade, no meio do caminho percebi que meus cigarros tinham acabado então passei em um boteco próximo ao portão de entrada da faculdade. Saindo do estabelecimento, me lembrei uma coisa que me fez sentir um sorriso interno, segunda-feira eu fazia uma tarefa que vinham desenvolvendo desde o primeiro dia de aula dessa disciplina, que era analisar uma colega de classe, seu nome era Thaís, ela não era do tipo que chamava a atenção de todos os homens, mas tinha um estilo e uma personalidade muito peculiar, talvez fosse isso que me atraía nela, essa personalidade que era quase como um segredo pra ela, mas que nesses meses todos eu fui descobrindo como um amigo íntimo que ela nem sabia que tinha.
Thaís era um tipo tímido que havia saído da casa dos pais para fazer faculdade e resolveu cunhar uma nova personalidade, que fosse mais dela, porém nada tirava o ar envergonhado de suas palavras, como quem espera aprovação. Seus gestos e trejeitos eram recatados até quando ela fumava, como um ato de rebeldia inexperiente, percebido no momento em que ia acender o cigarro de forma desastrosa. Na sala de aula Thaís nitidamente queria mostrar que tinha opinião própria e em muitos momentos ela colocava de forma segura seus pontos de vista, mas de mim ela nunca escondeu os olhinhos que pareciam tremer ao olhar pra sala como quem busca ler os pensamentos das pessoas e saber se alguém estava debochando de suas palavras. Sua pele era muita branca, seus cabelos longos e negros, eram descoloridos nas pontas, (o que as mulheres chamam de pintura à californiana), seu corpo era magro, o que não significa que ela não tivesse pequenos seios delicados e firmes, uma bunda deliciosamente e exatamente do tamanho em que ela precisava ter pra me fazer perceber que aquelas nádegas quando nuas, prometiam mais do que se podia ver quando estava nas calças, sua barriga era chapada e muitas vezes eu parava meus olhos em um centímetro de espaço entre a blusa que ela usava e o cós das calça, pra mim era pouco, mas o suficiente pra me tirar a atenção por muito tempo. Quanto às roupas, Thaís não era muito ousada, mas tinha seu estilo, era uma mistura de menina com universitária bicho-grilo, usava óculos com uma grossa armação de cor roxo claro, o que dava um ar intelectual, em meio a essa procura por um estilo próprio que ela mostrava. Seus lábios quase sempre estavam com um batom vermelho escuro, muitas vezes gasto após fumar um cigarro.
Depois de ficar pensando nesse estilo confuso que essa menina que tinha se tornado pra mim uma íntima desconhecida, eu percebi que já havia chegado ao bloco onde aconteceria a aula. Cheguei com cinco minutos de atraso, já que quando eu estou perdido em algum pensamento eu costumo andar muito devagar. A professora ainda estava arrumando o data show, pois ela usava slides durante a aula; procurei um lugar mais no fundo onde eu pudesse observar toda a sala, me sentei e de início percebi que Thaís ainda não havia chegado, fiquei meio frustrado com aquilo, mas tentei me acalmar pois, a sala estava um pouco vazia o que indicava que muitas pessoas ainda iam chegar. E como eu imaginava após dez minutos de aula Thaís abriu a porta e entrou rapidamente atravessando a sala, numa tentativa fracassada de não atrapalhar a explicação que a professora dava, já que ela enroscou o pé em uma cadeira, o que fez um grande barulho tirando a atenção de todos que estavam na sala, inclusive da professora, fingindo que nada havia acontecido, mas com uma vergonha que eu pude perceber já que a observava com muita atenção desde que entrou, tentando descobrir como estava o humor da encantadora garota que me despertava muitos pensamentos sexuais. Pude ver que ela estava bem, porém um pouco inquieta, já que a aula sobre “Estética em Marx” não lhe interessava muito, ela se sentou, olhou para os lados, cumprimentou algumas amigas com um sorriso e tirou uns papéis da bolsa. Alguns amigos seus chegaram, e por gestos e mímicas ela se comunicava, trocava livros, papéis avulsos, até que um dos livros lhe fez parar por alguns minutos. Enquanto ela lia, seu decote mostrava pequenos seios que cabiam na palma da minha mão com perfeição, fiquei pensando que ela poderia se movimentar fazendo com que o sutiã se afastasse um pouco do corpo me deixando ver quem sabe um mamilo. Como se lesse meus pensamentos, com inocente atrevimento ela colocou os braços para baixo, realizando meu desejo me surpreendendo com um pequeno mamilo rosado, que parecia ter sido colocado ali por um pintor renascentista, mas meu deleite foi curto, quando Thaís hiperativamente se mexeu novamente impedindo minha visão edênica.
Em alguns momentos Thaís percebeu que eu a observava e nossos olhares se cruzavam, eu queria sustentar a mirada, porém sua timidez (ou falta de interesse em mim) não permitiam uma encarada com mais de cinco segundos, o que para mim não era problema, eu sentia uma leve esperança de que um dia eu pudesse me envolver com ela, pra descobrir se meus pré-conceitos sobre estavam corretos.
Olhei no relógio e percebi que já haviam passado quarenta minutos da aula, concluindo que havia ficado muito tempo preso nos trejeitos de Thaís. Reparei que a dita moça fuçava a bolsa que parecia conter muitas coisas pequenas, como é de costume em bolsas femininas, logo ela retirou um batom da bolsa – o detalhe do batom me cativou muito, já que hoje em dia é comum as mulheres usarem só o chamado brilho labial, que é incolor – e com um gesto delicado ela passou primeiro no lábio inferior e depois no lábio superior fazendo após isso um movimento cinematográfico com os lábios para que o batom se espalhasse por toda boca igualmente. Ela fechou o batom e guardou-o na bolsa, em seguida fez o mesmo com alguns livros, cochichou algo no ouvido de sua amiga que sentava a sua frente, levantou-se colocou a bolsa no ombro esquerdo e saiu. Ela havia ido embora... Foi embora sem dar nenhuma leve olhada pra mim como quem se despede, sem dar adeus. Até segunda que vem.
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